quarta-feira, agosto 03, 2011

Você quer aparecer na mídia?

É comum ver em todas as televisões – sem exceção – o repórter se posicionar dentro de uma empresa, utilizar-se do ambiente, produzir uma reportagem e omitir o nome da organização. O pretexto é fuleiro: a mídia espontânea acaba motivando a empresa a não investir mais em publicidade.

Você sabe o que é mídia espontânea? São todas as inserções em televisão, rádio e jornal que não impliquem em desembolso. Ou seja: você aparece na telinha e não paga.

Há respostas sem perguntas, não é mesmo? Gisele Büdchen, Família Schürmann, Gustavo Kurten, a paraguaia Larissa Riquelme e dezenas de outros espetaculares atores públicos têm direito à mídia espontânea, praticamente todos os dias. Se indagassem por que essas pessoas têm direito a tanto espaço na mídia, a própria mídia não saberia responder.

Ah, porque eles têm leitores. Alguém deixaria de ler jornal, revista (exceto as publicações de astros) porque as notícias não são “espetacularizadas” com fatos, episódios e cenas inéditas desses astros? A gravidez de Gisele foi acompanhada durante nove meses por telespectadores, ouvintes e leitores. E qual o retorno de Gisele em publicidade para a mídia? A Gisele é simplesmente sensacional. As pernas dela batem todas as das garotas de Floripa. Pelo menos ela as mostra na passarela ou quando é flagrada trocando de roupa em uma camionete.

Uma das causas desses equívocos é, sem dúvida, a deterioração das técnicas jornalísticas. A neurose da velocidade, somada ao desespero de se querer descobrir a ansiedade do leitor, ouvinte e telespectador, leva o jornalista a “espetacularizar” a informação. Os seios da artista, que chamaram mais a atenção do que o lançamento de um filme de Woody Allen, o cabelo de Neymar que ofuscou o clássico entre Santos e Corinthians, a atriz que declarou amor pelo twitter a um cantor; o jogador que se acordou cansado e precisou ir ao médico etc.etc. tudo isso só concorre com o fato policial ou com o crime político, comuns no Brasil. O jornalista é incapaz de detalhar a obra de Woody Allen, porque os seios da artista são mais simples de serem mostrados. O filme exige tempo para se degustar.

A pressa é tamanha que o jornalista não tem mais tempo para investigar. Querem um exemplo? A mídia anda informando que a alça de contorno viário, que desviará trecho da BR-101 nas áreas urbanas da Grande Florianópolis, só começará a ser construído em 2012. Por quê? Não seria simples pedir ao Ministério dos Transportes uma cópia do contrato com a empresa que explora o pedágio em Palhoça? Pelo menos ficaria sabendo se a concessionária tem a obrigação de construir já essa alça. Por que também não obter uma cópia dos pedidos de licença ambiental? Uma cópia dos projetos do anel viário? Não! O disse não disse é mais rápido. E, assim, políticos, autoridades etc. usam a mídia como balão de ensaio, para explicar o injustificável.

Os seios da artista, as pernas do jogador mais bonito do campeonato, as idiotices de Romário, Tiririca são mais importantes para o leitor, na visão do jornalista, do que – quem sabe - projetos que esses dois nobres deputados por ventura já apresentaram...

Vamos, contudo, aplaudir artistas e senhores de espetáculos da mídia: eles sabem ganhar, com imensa facilidade, espaços espontaneamente gratuitos na televisão, rádio e jornal.

E, você cidadão também quer um pedacinho da mídia espontânea? Então não espere: fique nu em plena rua Felipe Schmidt; tente beijar uma senhora de 70 anos na Praça XV; ameace com um pistola de brinquedo no acesso a um banco, enfim, você pode virar um personagem, em troca de apenas algumas horas atrás das grades. Se pagar fiança!

Autor: Laudelino José Sardá, Jornalista e professor, Dr.

Um comentário:

  1. Não é bem assim para realizar uma inserção no campo dos media.
    Hoje a comunicação é um bem de consumo,existem muitos canais dentro de um mesmo meio de comunicação de massa o que cria a necessidade de utilização de lógica de mercado. Logo o sensacionalismo e a espetacularização são na verdade recursos midiáticos que o jornalista deve aprender a explorar com a finalidade de atrair a atenção do espectador. Podemos pegar o exemplo do seio da aritsta que chama mais atenção do que o lançamento do filme do Woody Alen. Conhecer jornalismo é usar o seio da artista para focar a atenção do espectador no assunto nudez e, apartir deste tema, criar um "hipertexto" para linckar esta nudez com alguma cena semelhante presente no filme, mesmo que seja minima. Assim a atenção do publico é mantida e guiada com maestria a um foco com conteúdo informtivo de qualidade.
    Inserção midiática é uma via de duas mãos. Ela pode ser aproveitada também pelo editor e é uma técnica bem utilizada em jornais, revistas e rádios onde um profissional diplomado está atuando.

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